16 julho 2009

A metade da laranja.

Será que dá laranjada?

Renatinho_Nati

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

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CAUSAS ANTERIORES DAS AFLIÇÕES

6 Se há males dos quais o homem é a principal causa nesta
vida, há outros que, pelo menos na aparência, lhe são completamente
estranhos e parecem atingi-lo como que por fatalidade. Tal
é, por exemplo, a perda de seres queridos e dos que sustentam a
família. Tais são também os acidentes que nenhuma precaução pode
impedir; os reveses da vida que tornam inúteis todas as medidas de
prudência; as calamidades naturais e as enfermidades de nascença,
sobretudo as que tiram a tantos infelizes os meios de ganhar a vida
pelo trabalho: as deformidades, a idiotia, o cretinismo, etc.
Aqueles que nascem nessas condições seguramente não fizeram
nada nesta vida para merecer uma sorte tão triste, sem solução, sem
reparação e que não puderam evitar, estando impossibilitados de as
mudarem por si mesmos, e que os expõe à caridade pública. Por que,
então, seres tão desventurados e infelizes, enquanto ao seu lado, sob
o mesmo teto, na mesma família, outros tão favorecidos sob todos os
aspectos?
O que dizer, enfim, dessas crianças que morrem ainda pequeninas
e que apenas conheceram da vida o sofrimento? Estes são os
problemas que nenhuma filosofia ainda pôde explicar ou resolver até
agora, anormalidades que nenhuma religião pôde justificar e que
parecem ser a negação da bondade, da justiça e da providência de
Deus, na suposição de que a alma e o corpo são criados ao mesmo
tempo, e de ter sua sorte irrevogavelmente fixada após uma estada
de alguns instantes na Terra. Que fizeram essas almas que acabam
de sair das mãos do Criador, para suportar tantas misérias aqui na
Terra e merecer no futuro ou uma recompensa, ou uma punição
qualquer, se não fizeram nem o bem e nem o mal?
Entretanto, em virtude do princípio de que todo efeito tem uma
causa, essas misérias são o efeito que deve ter uma causa. E desde
que se admita um Deus justo, essa causa deve ser justa. Portanto,
como a causa vem sempre antes do efeito, se não está na vida
atual, deve ser anterior a esta vida, ou seja, está numa existência
anterior. É certo que Deus não pune o bem que se faz e nem o mal
que não se faz; se somos punidos, é porque fizemos o mal; se não
o fizemos nesta vida, seguramente o fizemos em outra. É uma
conclusão da qual é impossível fugir e que demonstra a lógica da
justiça de Deus.
O homem nem sempre é punido, ou completamente punido em
sua existência presente, mas nunca escapa às conseqüências de suas
faltas. A prosperidade do mau é apenas momentâne; se não for punido
no hoje, o será no amanhã, e, sendo assim, aquele que sofre está
expiando• os erros do seu passado. A infelicidade, que à primeira
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vista nos parece imerecida, tem, pois, sua razão de ser, e aquele que
sofre pode sempre dizer: “Perdoai-me, Senhor, porque errei”.
7 Os sofrimentos com que nos defrontamos na vida presente,
devido às causas anteriores, são, na maioria das vezes, como também
o são os das faltas atuais, a conseqüência natural de erros cometidos,
ou seja: por uma rigorosa justiça distributiva, o homem suporta o que
fez os outros suportarem. Se foi duro e desumano, poderá, por sua vez,
ser tratado duramente e com desumanidade. Se foi orgulhoso, poderá
nascer em uma condição humilhante; se foi avarento, egoísta, ou se fez
mau uso de sua fortuna, poderá ser privado do necessário. Se foi um
mau filho, poderá sofrer com os seus próprios filhos, etc.
Assim, pela pluralidade das existências e da destinação da Terra
como mundo expiatório, se explicam os absurdos que a divisão da
felicidade e da infelicidade apresenta entre os bons e os maus neste
mundo. Esse absurdo existe somente na aparência, pois é considerado
apenas do ponto de vista da vida presente; mas, se nos elevarmos
pelo pensamento, de modo a incluir uma série de existências, compreenderemos
que cada um tem o que merece, sem prejuízo do que
lhe está reservado no mundo dos Espíritos, e que a justiça de Deus
nunca falha.
O homem não deve se esquecer nunca de que está num mundo inferior,
ao qual está preso devido às suas imperfeições. A cada contrariedade
ou sofrimento da vida, deve dizer de si para si mesmo que, se estivesse
num mundo mais avançado, isso não aconteceria e que depende dele
não retornar a este mundo, trabalhando por sua melhoria.
8 As tribulações da vida podem ser impostas aos Espíritos endurecidos,
isto é, teimosos no mal ou muito ignorantes, ainda incapazes de
fazer uma escolha consciente, mas são livremente escolhidas e aceitas
pelos Espíritos arrependidos, que querem reparar o mal que fizeram e
tentar fazer o bem, a exemplo daquele que, tendo feito mal sua tarefa,
pede para recomeçá-la, para não perder o fruto do seu trabalho. Essas
aflições são, ao mesmo tempo, expiações do passado, que nos castigam,
e provas que nos preparam para o futuro. Rendamos graças a Deus
que, em sua bondade, dá ao homem a oportunidade da reparação e não
o condena irremediavelmente pela primeira falta.
9 Entretanto, não se deve pensar que todos os sofrimentos suportados
neste mundo sejam necessariamente a indicação de uma
determinada falta. São, na maioria das vezes, provas escolhidas pelo
Espírito para concluir sua purificação e apressar seu progresso. Assim,
a expiação serve sempre de prova, porém a prova nem sempre é
uma expiação. Contudo, provas e expiações são sempre sinais de
uma relativa inferioridade, pois o que é perfeito não tem mais necessidade
de ser provado. Um Espírito pode ter adquirido um certo grau
CAPÍTULO 5 - BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
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de elevação, mas, querendo avançar ainda mais, solicita uma missão,
uma tarefa a cumprir, da qual tanto mais será recompensado, se sair
vitorioso, quanto mais difícil tiver sido a luta para vencê-la. Tais são
essas pessoas de tendências naturalmente boas, de alma elevada,
que têm nobres sentimentos, que parecem não ter trazido nada de
mau de sua existência anterior e que suportam com uma resignação
cristã as maiores dores, pedindo a Deus coragem para suportá-las
sem lamentações. Ao contrário, podem-se considerar como expiações
as aflições que provocam queixas e lamentos e fazem o homem se
revoltar contra Deus.
Sem dúvida, o sofrimento sem lamentações pode ser uma
expiação, mas é um sinal de que foi escolhido voluntariamente e não
imposto. É uma prova de uma firme decisão, o que é um indício de
progresso.
10 Os Espíritos só podem alcançar a perfeita felicidade quando
são puros: qualquer impureza lhes impede a entrada nos mundos
felizes. É como se fossem os passageiros de um navio atingido pela
peste, aos quais a entrada numa cidade é interditada até que eles
estejam descontaminados, purificados. Nas suas diversas existências
corporais é que os Espíritos se livram, pouco a pouco, de suas
imperfeições. As provas da vida fazem avançar quando são bem
suportadas. Como expiações, elas apagam as faltas e purificam.
São os remédios que limpam a chaga e curam o doente; e quanto
maior o mal, mais o remédio deve ser eficiente. Aquele, pois, que
sofre muito deve dizer que tinha muito a expiar e se alegrar de ser
curado logo. Depende dele, de sua resignação, tornar esse sofrimento
proveitoso e não perder o seu fruto pelas lamentações. Caso contrário,
terá de recomeçar.